Fado do Estudante Poema de Amadeu do Vale Música de Jaime Mendes Que negra sina ver-me assim Que sorte e vil degradante, Ai que saudades eu sinto em mim Do meu viver de estudante! Nesse fugaz tempo de Amor Que de um rapaz é o melhor Era um audaz conquistador das raparigas De capa ao ar cabeça ao léu Só para amar vivia eu, sem me ralar A vadiar e tudo mais eram cantigas. Nenhuma delas me prendeu Deixá-las eu era canja, Até ao dia que apareceu Essa traidora de franja! Sempre a tinir sem um tostão Batina a abrir por um rasgão Botas a rir num bengalão e ar descarado A vadiar com outros mais E a dançar para os arraiais Para namorar beber, folgar cantar o fado. Recordo agora com saudade Os calhamaços que eu lia, Os professores da faculdade E a mesa da anatomia! Invoco em mim recordações Que não têm fim dessas lições Frente ao jardim do velho campo de Santana Aulas que eu dava se eu estudasse Onde ainda estava nessa classe A que eu faltava sete dias por semana. O Fado é toda a minha fé Embala, encanta e inebria Pois chega a ser bonito até Na radio-telefonia! Quando é tocado com calor Bem atirado e a rigor É belo o Fado, ninguém há que lhe resista, É a canção mais popular, Yem emoção faz-nos vibrar Eis a razão de eu ser Doutor e ser Fadista.